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As ondas de mudança de direção da sociedade humana

Meio ambiente e desenvolvimento econômico são atividades imbricadas por sua própria natureza e não podem ser pensadas e tratadas de forma apartada, mas sim compartilhada, por meio de trade-offs que reflitam a preservação ambiental e sustentável do planeta.

 

Por certo, há um consenso entre ambientalistas, cientistas e lideranças políticas e empresariais de que se esgotou o tempo de discussões intermináveis e infrutíferas. É hora de agir, já que somos dotados de múltiplas inteligências e evoluímos o nosso pensamento.

 

Sistemas finitos como o terrestre, não comportam crescimento geométrico e buscam um nível de equilíbrio, para evitar que Gaia se transforme em Medeia.

 

O conflito de opiniões e posições entre os que defendem o crescimento econômico versus os partidários da preservação ambiental parece insolúvel. A crise ecológica global é consequência direta do comportamento, do modo de produção e do consumo provocados pelo próprio ser humano.

 

Todos os movimentos sociais, por mais justos que sejam, defendem reivindicações de uma parte da sociedade: negros, mulheres, homossexuais, sem-terra ou sem-teto, desempregados, seguidores de seitas e cleros. A proteção ao meio ambiente representa o interesse de todos os grupos, da humanidade inteira.

 

Um grande tema às vezes leva muito tempo para ser compreendido e praticado, pode passar anos, até décadas, mas tudo indica que a visão correta de luta pela sociedade sustentável toma conta de agentes sociais, de líderes visionários.

 

Abrir novos mercados e desenvolver novas formas de organização e de produção transformam e revolucionam a estrutura econômica vigente, destroem a velha ordem e criam uma nova.

 

Uma das maiores autoridades mundiais em termos de visão e luta pelo futuro e compreensão do fenômeno das mudanças é Alvin Toffler, visionário e futurólogo americano. Seus livros ainda têm grande atualidade, tornaram-se best-sellers e as previsões sobre o futuro que trazem têm altas taxas de acerto.

 

Toffler afirma que o mundo vive um período revolucionário de mudanças de rumo, que só ocorreu apenas duas outras vezes na história da humanidade. A primeira quando a raça humana passou de uma civilização tipicamente nômade para uma civilização basicamente agrícola, há 10 mil anos. A segunda foi quando a raça humana passou de civilização agrícola para industrial, há trezentos anos, nos EUA e na Europa, apesar de muitas regiões no mundo não terem atingido esse estágio.

 

A terceira revolução está em curso e iniciou-se por volta de 1955 nos EUA e em outros países que viviam o auge do desenvolvimento industrial, como a Inglaterra. A essas revoluções se deu o nome de “ondas”. A terceira onda foi denominada de revolução do conhecimento e da informação.

 

O que distingue uma onda da outra é fundamentalmente um sistema diferente de criar riqueza. A alteração na forma de produção de riqueza é acompanhada por profundas mudanças sociais, culturais, políticas, filosóficas, institucionais, econômicas e religiosas.

 

Na primeira onda, o meio de produção para criar riqueza era o cultivo da terra. O ser humano contribuía apenas com um mínimo de conhecimento sobre quando e como plantar e colher, com a força física para trabalhar junto dos animais. Essa forma de produção de riquezas causou profundas transformações com relação ao que existia na civilização precedente, a civilização nômade.

 

A forma de criar riqueza na segunda onda passou a ser a manufatura industrial e o comércio de bens. A terra já não era tão importante, mas, de outra forma, prédios, fábricas, equipamentos, energia, matéria-prima, o trabalho humano e, naturalmente, o capital passaram a assumir o papel principal dos meios de produção. O ser humano necessitava entender ordens e instituições, ter disciplina e, na maioria dos casos, ter força física para trabalhar. Novas e profundas transformações ocorreram na sociedade. O valor das organizações era medido pelo número de fábricas, equipamentos, inventário, e a produção e o consumo eram massificados.

 

A terceira onda realçou o conhecimento como meio dominante de produção de riquezas, e o ser humano inventivo, criativo e contestador tornou-se o seu principal instrumento de transformação, o elemento central da sociedade. Na medida em que o conhecimento está presente, é possível reduzir a participação de todos os outros meios no processo de produção. A importância e o valor das organizações são o conhecimento que elas possuem e que está contido em seu contingente de recursos humanos, sendo, portanto, intangível e de difícil quantificação.

 

A produção na terceira onda está em grande parte automatizada e permite fazer produtos desmassificados, diversificados, sem grandes custos adicionais e sem a necessidade de parar toda a fábrica. A produção é adaptada aos desejos do consumidor por meio da criatividade humana e de alta tecnologia. A sociedade desmassificou-se e tornou-se mais complexa e exigente, sendo impossível geri-la sem informação e tecnologia da informação (computadores, telecomunicações), em sistemas integrados e ágeis.

 

A sociedade industrial está no fim e vive de forma cada vez mais intensa a terceira  onda, sob a égide de um processo generalizado de desmassificação. O mundo expõe muito mais estruturas familiares, estilos de vida, esportes, diversidade de entretenimento, de trabalhos, de profissões e de indústrias que trabalham para produções de nichos de mercado. Os meios de comunicação dirigem-se cada vez mais para segmentos específicos diferenciados, e não à massa da sociedade.

 

Há países e regiões que atuam nas três ondas simultaneamente, e a troca de poder gera conflitos entre as elites das respectivas civilizações. No Brasil, há várias ondas ocorrendo ao mesmo tempo. A região da Amazônia está na revolução agrícola da primeira onda, em que se derrubam florestas para plantar diversas culturas.

 

Na região Sudeste, o país está no centro da terceira onda, em linha com os países mais desenvolvidos do mundo. A velocidade de transformação e do desenvolvimento tecnológico é espantosa, e é provável que a terceira onda se complete em poucas décadas, mas já traz consigo um modo de vida genuinamente novo, com novos códigos de comportamento. Remete a sociedade para além da burocracia, padronização, sincronização e centralização, além da concentração de energia, dos recursos financeiros e do poder. Com relação especificamente à energia, a nova civilização baseia-se em fontes diversificadas e renováveis.

 

Atualmente, líderes da economia energética percebem a inevitabilidade da mudança para fontes renováveis mais limpas que os combustíveis fósseis, assim como princípios ecológicos mais restritivos em prol de uma economia ambientalmente sustentável. Nasce uma nova onda pós-desenvolvimento econômico, com base na sustentabilidade, para substituir a civilização urbana e industrial: a sociedade sustentável.

 

Na sequência do raciocínio das ondas de Toffler, surge então no século XXI a onda da sociedade sustentável, em que o sistema criador de riqueza é a capacidade de produzir bens e serviços renováveis e limpos, de forma sustentável. Esta nova onda, a sociedade sustentável, será tratada em detalhes em um próximo artigo.